No domingo, 15 de setembro, o presidente chileno Gabriel Boric participou de um evento marcante para a comunidade evangélica do Chile: o tradicional Te Deum Evangélico, uma cerimônia anual de ação de graças que reúne líderes evangélicos, autoridades políticas e a sociedade para orar pelo país.
Esse culto, que teve início em 1975 e foi integrado às comemorações do feriado nacional em 1997, é uma oportunidade para os líderes religiosos evangélicos transmitirem mensagens de fé e reflexões sobre a situação do Chile. Este ano, o evento foi conduzido pelo pastor Robinson González e ocorreu em uma nova igreja, diferente da tradicional Catedral Evangélica de Santiago, onde normalmente é realizado.
O ponto alto da cerimônia foi a pregação do pastor Israel Huito, que trouxe uma mensagem baseada no Livro de Malaquias, abordando questões fundamentais para o país. Ele enfatizou a importância do respeito à autoridade e à responsabilidade das lideranças, destacando que a falta de paz que o Chile e a região enfrentam é um reflexo do distanciamento dos princípios de Deus. Huito também abordou temas sensíveis e atuais, como a educação infantil em relação à identidade de gênero, a corrupção e o aumento da criminalidade, apontando que essas questões estão no centro das preocupações da igreja evangélica e precisam ser enfrentadas com mais firmeza.
O presidente Gabriel Boric, que é conhecido por não ser uma pessoa de fé, participou da cerimônia com respeito e expressou gratidão pelo convite. Durante seu discurso, Boric mencionou ter sentido a energia e boas vibrações da fé dos presentes, reconhecendo a importância de momentos de oração como aquele, independentemente de sua própria crença pessoal. Ele destacou que é necessário orar pelo Chile, especialmente em tempos de desafios sociais e políticos, e reconheceu a devoção e paixão dos participantes como algo admirável.
A presença de Boric no Te Deum Evangélico não foi a única que gerou reações. Líderes políticos de diferentes partidos também participaram e comentaram o evento. O senador García Ruminot elogiou o trabalho social das igrejas evangélicas, mencionando seu papel essencial em prisões, hospitais e outras áreas sociais vulneráveis. No entanto, a cerimônia também trouxe críticas. O deputado evangélico Eduardo Durán expressou sua decepção com a falta de firmeza na abordagem de questões polêmicas, como o aborto, a eutanásia e a educação infantil em temas de gênero, tópicos que, segundo ele, deveriam ser tratados de forma mais enfática no contexto religioso.
Um ponto histórico desse Te Deum foi a presença de representantes de diversas religiões e das Forças Armadas. Entre os presentes, 14 ministros do governo, deputados de diferentes partidos e líderes militares marcaram presença, sinalizando a importância do evento no calendário cívico do Chile. Pela primeira vez, o arcebispo católico Dom Fernando Chomalí participou da cerimônia, reforçando um espírito de cooperação inter-religiosa, algo cada vez mais necessário em um mundo polarizado. Essa abertura para o diálogo entre diferentes credos foi um marco importante e demonstra que as questões religiosas e sociais podem ser debatidas em conjunto, com respeito às diferentes visões.
O Te Deum Evangélico deste ano refletiu as tensões e desafios que o Chile enfrenta, mas também serviu como um espaço para a reflexão e o diálogo entre diferentes setores da sociedade. A presença de Boric e de outras autoridades políticas foi um indicativo da importância que o governo dá à comunidade evangélica, que é uma força social e política significativa no país. Para muitos líderes evangélicos, o evento foi uma oportunidade de reafirmar seus valores e pedir que o governo tome ações mais firmes em áreas que afetam diretamente a vida de seus fiéis.
O evento concluiu com uma forte mensagem de união e esperança, embora muitas das questões levantadas durante a cerimônia ainda exijam discussões aprofundadas e ações concretas por parte do governo e da sociedade. A presença de líderes de diferentes crenças, incluindo católicos e evangélicos, trouxe à tona o desejo de cooperação e respeito mútuo entre as religiões. Esse evento, mais uma vez, reforçou o papel central da fé na construção de uma nação mais justa e pacífica.