Falta de repercussão no discurso de Lula na ONU expõe desafios para a reforma das instituições globais, mídia internacional deu pouca atenção às suas propostas
O discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante a abertura da 79ª Assembleia Geral da ONU, realizada em Nova York, foi marcado por uma série de críticas e propostas, mas não atraiu grande atenção dos principais veículos de mídia internacional. Com uma fala de 19 minutos, Lula abordou temas como o conflito entre Israel e o Hezbollah, e renovou seu apelo por uma reforma na estrutura da ONU, visando ampliar a representatividade global. Apesar dos pontos levantados, veículos de imprensa de países desenvolvidos deram pouca ênfase ao discurso do líder brasileiro.
Um dos aspectos que mais chamou atenção foi a crítica feita por Lula aos ataques de Israel contra o Hezbollah no Líbano. O presidente expressou apoio à comissão palestina, o que gerou uma reação fria da delegação israelense, que não aplaudiu ao final de sua fala. Embora o discurso tenha sido marcante em suas críticas às ações de Israel, a cobertura da mídia internacional foi mínima, com publicações como o Washington Post adotando um tom crítico em relação às palavras do presidente brasileiro.
Além das questões de política externa, Lula voltou a defender uma reforma estrutural na ONU, enfatizando a necessidade de maior diversidade entre os países com cadeiras fixas e poder de veto no Conselho de Segurança. Essa proposta, segundo o especialista em relações internacionais Vinicius Vieira, pode não ser bem recebida pelas grandes potências, que poderiam, eventualmente, deixar de utilizar a ONU para resolver crises internacionais. Vieira argumenta que essa mudança poderia enfraquecer a organização e torná-la irrelevante em questões emergenciais.
A reforma defendida por Lula visa aumentar a participação de países do hemisfério sul, permitindo que mais vozes sejam ouvidas nas decisões globais. No entanto, a proposta encontra resistência entre os membros permanentes do Conselho de Segurança, que temem perder influência nas resoluções internacionais. O discurso, embora relevante no contexto das discussões sobre a ONU, não gerou grande repercussão na imprensa de países como Portugal e Itália, onde Lula foi apenas citado brevemente.
Para muitos analistas, a falta de destaque ao discurso de Lula está relacionada à atual conjuntura internacional, onde os debates estão focados em conflitos mais imediatos e nas relações entre as grandes potências globais. O apelo por uma reforma da ONU, embora necessário para muitos países em desenvolvimento, é visto com ceticismo pelas potências que têm interesse em manter o atual equilíbrio de poder no Conselho de Segurança.
A recepção ao discurso de Lula na Assembleia Geral da ONU foi mista. Enquanto países em desenvolvimento apoiaram as suas propostas, a reação dos países desenvolvidos foi marcada pela indiferença. A crítica à ação de Israel no Líbano e o apoio explícito à Palestina criaram desconforto entre os aliados ocidentais de Israel, e contribuíram para a baixa cobertura midiática do evento.
Mesmo com a pouca atenção recebida, o presidente brasileiro segue comprometido com a pauta de reformulação das instituições internacionais. Lula acredita que a representatividade global precisa ser ampliada para incluir mais países em desenvolvimento, uma proposta que ele defende desde o início de seus mandatos anteriores. A questão, no entanto, é se essas propostas terão alguma chance de ser efetivamente debatidas nos próximos anos.
Outro ponto que pode ter contribuído para a falta de cobertura internacional foi o foco do discurso de Lula em questões que não são prioritárias para a mídia de países desenvolvidos, que atualmente está mais centrada em conflitos como a guerra na Ucrânia e as tensões entre Estados Unidos e China. A proposta de reforma da ONU, embora importante, não é uma pauta urgente para os principais veículos de comunicação no cenário atual.
A fala de Lula também destacou a importância de ações coordenadas para o combate às mudanças climáticas, um tema que ele tem abordado frequentemente em fóruns internacionais. No entanto, mesmo essa pauta, que costuma atrair atenção global, não foi suficiente para gerar um destaque maior ao discurso nos veículos internacionais. O foco da mídia internacional parece estar mais direcionado a outras questões geopolíticas no momento.
O especialista Vinicius Vieira destacou que, embora as propostas de Lula sejam legítimas e necessárias para países em desenvolvimento, é improvável que as grandes potências aceitem reformas que possam reduzir sua influência na ONU. Segundo ele, a reforma proposta poderia resultar em uma menor participação das potências na organização, enfraquecendo seu papel como fórum para resolver crises globais.
Por fim, a reação fria da mídia internacional ao discurso de Lula levanta questões sobre a eficácia das propostas do presidente no cenário internacional atual. Apesar de suas intenções em reformar as instituições globais e trazer maior equilíbrio às decisões da ONU, o caminho para que essas mudanças sejam implementadas parece distante, especialmente sem o apoio das principais potências globais.